Pensando em Gestão
FÁBULA: O ESQUILO, A FÁBRICA E A ESCOLA
Era uma vez um Esquilo que recebeu de herança uma fábrica de quebra nozes que já existia há três gerações da sua família. Como ele era muito ambicioso, decidiu tornar a sua empresa a maior fábrica de quebra nozes do mundo. Para isso, ele determinou que cada setor de produção deveria atingir uma meta diária, quebrando 5 mil nozes todos os dias.
Além disso, determinou ainda que a empresa funcionasse em três turnos ao invés de dois, também instituiu uma tabela de folgas quinzenais ao invés de folgas semanais, reduziu o horário de almoço e extinguiu o horário de descanso. Tudo isso visando o crescimento e o lucro da empresa.
Durante os primeiros meses, a empresa de quebra nozes teve um grande crescimento econômico devido as medidas tomadas outrora pelo Esquilo-chefe. Porém, num dado momento a empresa começou a ter prejuízo devido ao número de funcionários doentes e de demissões além da quantidade de problemas técnicos dos aparelhos da linha de produção que funcionavam 24h. Com isso, a empresa de quebra nozes que seria referência no mundo, faliu.
Foram momentos difíceis para o Esquilo ambicioso, pois ele não sabia o porquê da sua falência visto que ele possuía um plano infalível e de início tudo estava dando certo. Agora ele estava desempregado e sem saber o que fazer.
Após alguns meses procurando emprego ele conseguiu uma vaga para substituir um diretor de uma escola que precisara se afastar por motivos de saúde. Dessa forma, ele se viu na oportunidade de mostrar o quão bom ele era como administrador, pois ele já havia sido o diretor da grande empresa de quebra nozes e agora ele colocaria em prática o seu plano que revolucionaria os resultados daquela instituição. Ele queria dirigir a escola da mesma forma que dirigia a antiga empresa. Assim empregou novos objetivos para aquela escola voltada significativamente para os resultados, na qual os alunos seriam submetidos a vários testes de memorização e repetição por semana sendo os professores responsáveis por gerenciar os resultados desses alunos, assim as provas seriam aplicadas constantemente a cada conteúdo passado e os estudantes precisavam tirar no mínimo 7 nos anos iniciais e 8 nos anos finais.
Contudo este método não estava surtindo efeito, os alunos estavam tirando notas bem abaixo do esperado e o Senhor Esquilo não sabia o que fazer, a única solução foi então procurar ajuda da Senhora Raposa, referência no processo de ensino.
A senhora Raposa orientou que ele trabalhasse com a Escola de Relações animais e seus 5 pilares fundamentais para a instituição atingir os resultados esperados: 1° Necessidades Fisiológicas, os alunos tivessem intervalo e pudessem ir beber água ou ao banheiro se terminassem a atividade. 2° Necessidade de segurança, onde teria na escola segurança, câmeras e seria proibido o uso de objetos cortantes na sala de aula; 3° Necessidade Sociais, a escola deveria promover trabalho em grupo; 4° Necessidade de Autoestima, o alunos que tinham as melhores notas em cada mês ganhavam uma estrela e certificados de destaque; 5° Necessidade de Autor realização, os melhores alunos seriam transferidos para salas alfas que teria a melhor estrutura da escola, materiais e teriam direito a um lanche diferenciado.
O senhor Esquilo aplicou todas as orientações da senhora Raposa e o primeiro semestre mostrou resultados positivos, a escola começou a crescer nos rankings das melhores da cidade, entretanto no semestre seguinte começou a ter aumento de evasão dos alunos isto porque eles não conseguiam entrar na sala alfa, não queriam mais estudar na escola e os pais dos melhores alunos começaram a reclamar que seus filhos só estudavam e além disso estavam sem tempo para a família e lazer.
O senhor Esquilo ficou com medo de a sua escola fechar igual a sua empresa, pois sem estudantes a escola não funcionariam e que as ideias da senhora Raposa não estavam funcionando mais a longo prazo. Agora, a sua única solução era procura uma tal de senhora Coruja, diretora de uma escola que estava ficando famosa e tinha até feito uma entrevista para o jornal sobre gestão escolar, algo que o senhor Esquilo não tinha ideia do que era, mas queria salvar o seu trabalho.
Ao encontrar a senhora Coruja, o Esquilo perguntou como fazia para administrar a sua escola tão bem, ela respondeu que não administrava nada pois não estava trabalhando com uma empresa, mas sim com pessoas. O senhor Esquilo ficou perturbado e não conseguiu entender o que ela estava querendo dizer e então perguntou qual era a fórmula para ela ter tão bons resultados. Novamente, a senhora Coruja respondeu que não estava preocupada com resultados, mas com a comunidade escolar na qual os professores se sentiam felizes em ensinar e os alunos fossem tratados com respeito as suas particularidades já que não são como máquinas.
A partir desse momento o senhor Esquilo mudou totalmente a sua visão e entendeu a diferença entre administrar e gerir, passando a seguir as recomendações da Coruja e agora sim, revolucionando a educação da sua escola. Sim! A educação! Pois ele percebeu que resultados são apenas uma consequência do processo de aprendizagem de um aluno. E assim, aquela escola do tal senhor Esquilo que antes presidira a grande empresa de quebra nozes que faliu, cresceu.
FIM
Moral da história: A educação não pode ser pensada como administração, pois ela rompe os muros das certezas e vai para além dos caminhos das incertezas na medida em que a cada dia lida com novos desafios e só com gestão é possível enfrentá-los.

ILUSTRAÇÃO CRÍTICA: MODELOS DE GESTÃO EDUCACIONAL
Nesta representação gráfica buscamos evidenciar cenários comuns aos tipos de gestões, sendo elas a Gestão Burocrática, a Gestão Gerencial Empresarial e a Gestão Democrática. Na qual, de forma crítica a imagem representa a hierarquia presente na educação pública onde a mesma procura não formar indivíduos autônomos e sim produtos formatados para suprir as necessidades do sistema vigente.
Por conseguinte, a imagem representa a Gestão Gerencial Empresarial que é a mais presente nas instituições de ensino atualmente, estando atrelada ainda aos ideais estabelecidos na Gestão Burocrática com viés descentralizado e com decisões verticalizadas, com foco no desempenho dos alunos e na realização de provas.
Por fim, é representada a Gestão Democrática, considerada a gestão ideal, conquistada através de lutas sociais com a participação de todos nos processos educacionais, considerando as características próprias de cada sistema de ensino.
Gestão burocrática
- Nas escolas a disciplina e a ordem eram enaltecidas.
- As diretrizes da política educacional são marcadas pela a transferência de recursos públicos para o setor privado.
- Ensino público brasileiro entre os piores do mundo.
- A educação que nos convém.
- Lei n° 5.540 de 28 de novembro de 1968, aprovada duas semanas antes de ser baixado o Ato institucional n° 5, o Al-5. A lei reorganizou o ensino superior numa concepção autoritária, segundo a qual o mercado e as instituições ao seu dispor, adéquam as pessoas ás sua necessidade.
- Criaram-se mecanismos que justificavam os abusos, intervenção, perseguição e cassação de professores e estudantes, censura à pesquisa e a subordinação direta dos reitores ao presidente da república.
- Abertura de vagas em faculdades particulares para atender os anseios do empresariado.
- No Brasil os jovens entre 18 e 24 anos não chegavam nem a 12% ingressos na faculdade.
- Baixou decreto-lei n° 477, o Al-5 das universidades, em que punia sumariamente professores, alunos e funcionários considerados culpados de subversão e os proibia de trabalhar ou estudar em outras instituições. Era a criminalização do movimento estudantil e de toda forma de contestação.
- As forças militares invadiam universidades e incendiavam a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), além de fecharem escolas e destruírem bibliotecas.
Gestão Democrática
- Constituição Federal de 1988 se configurava tendo como base os anseios de uma sociedade sedenta de mudanças e que lutava pela construção de um país democrático.
- Conquista lenta, forjada no território dos movimentos sociais, com maior força em 1979.
- Sendo dever do Estado prover creches e pré-escolas.
- Ensino fundamental obrigatório e gratuito.
- Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiências.
- No art. 10 a Constituição assegura a todos os trabalhadores e empregadores a participação em órgãos colegiados que tratem de assuntos de seus interesses.
- Caracterizada principalmente pela a obrigatoriedade, gratuidade, liberdade, igualdade na educação.
- Processos coletivos de toda a comunidade escolar e local na participação (conselhos escolares, colegiados ou equivalentes) e decisão tomadas dentro das escolas.
- Respeito a realidade de cada escola e autonomia.
- Financiamento pelo poder público.
- Escolha dos dirigentes escolares.
Gestão gerencial empresarial
- Reforma do ensino médio com foco no ensino tecnicista.
- Eficácia e eficiência como foco do estado para a educação.
- Organização de indicadores de desempenho e a avaliação dos resultados alcançados.
- A comunidade passa a controlar a escola pública, significando assim que a escola pública fica sem manutenção estatal e, principalmente, não sendo o responsável pelos acontecimentos tais como fracasso escolar ou evasão.
- Descentralização com responsabilização de resultados educacionais.
- Induz as escolas públicas à concorrência entre si, pressão dos professores a fim de alcançarem as metas pré-estabelecidas.
- Buscar por excelência em resultados a qualquer custo.
- Professor sem autonomia e sem a valorização da subjetividade, pois o Estado está preocupado com Metas e Competências padronizados em todas as escola.
